Numa
certa manhã nublada do século
XIV a.C., são raras as manhãs
nubladas no Egito, o faraó Amenófis
IV saltou da cama com o coração
em disparada. Havia tido um pesadelo terrível
que o havia atormentara por toda a madrugada.
No sonho, o faraó estava numa grande
sala onde vários deuses estavam reunidos.
Apesar de Amenófis estar presente, quem
liderava a reunião era Seth, o deus com
cabeça de chacau. Por ordem de Seth,
os deuses cercaram o rei egípcio, todos
empunhando adagas. Seth se aproximou e desferiu
um golpe contra o faraó que, antes da
lâmina o tocar, acordou ensopado de suor.
Angustiado, Amenófis mandou chamar seus
conselheiros e magos, queria uma interpretação
para o sonho. Porém, nenhuma das interpretações
devolveu paz ao coração do faraó.
Inquieto,
Amenófis resolve se retirar. Sobe até
seus aposentos onde, do alto da janela, fica
a fitar o céu. O raro dia nublado perturbava
ainda mais o faraó, “Será este
um sinal?”. Foi então que, em meio às
nuvens, o sol saiu imponente a brilhar, em questão
de segundos as nuvens se desfizeram. A mudança
no tempo devolveu paz ao coração
do monarca. Amenófis não tinha
mais dúvidas, sua vida e seu reinado
corriam sérios riscos.
No entendimento do faraó, os deuses conspiravam
contra sua vida. Somente Aton, deus representado
pelo disco solar, poderia protegê-lo.
Para fugir dessa cilada, o faraó teria
de afastar os outros deuses do Egito.
Tomada a decisão, Amenósis inicia
um novo programa de governo. Era necessária
uma reforma político-religiosa no Egito.
A primeira medida foi mudar seu próprio
nome. Amenófis torna-se Akhenaton “o
espírito atuante de Aton”.
A partir daí, Akhenaton começa
um processo de reestruturação
da religião egípcia. O culto aos
deuses é proibido, com exceção
ao culto a Aton. Templos são fechados.
Sacerdotes, responsáveis pelo culto aos
outros deuses, são destituídos.
A reforma religiosa parecia não ter fim
quando Akhenaton decide construir uma nova capital
para o reino. A nova cidade, mesmo antes de
ser concluída, foi batizada de Akhetaton,
o “horizonte de Aton”. Mas a construção
trouxe consigo sérios problemas ao faraó,
pois a construção obrigou o deslocamento
de milhares de escravos para as obras da nova
capital. Isso gerou o descontentamento dos outros
centros políticos egípcios. Como
se isso não bastasse, antigos ministros,
conselheiros e, principalmente, os sacerdotes
destituídos passaram a conspirar contra
Akhenaton.
Os conspiradores não aceitavam as reformas
promovidas pelo faraó. Muitos haviam
perdido seus preciosos cargos, outros tinham
sofrido com o fechamento de seus lucrativos
templos. Assim, na calada da noite os conspiradores
se reuniram tomando uma importante decisão:
Akhenaton precisa ser assassinado.
Em uma bela noite do ano 1382 a.C., Akhenaton
recebeu a visita de seus antigos conselheiros.
No final daquele encontro o faraó estava
morto. A forma como Akhenaton foi assassinado
permanece um mistério até hoje.
O que não é mistério foi
o que aconteceu com o Egito nos meses que se
seguiram. A antiga religião politeísta
foi restaurada, templos foram reabertos e a
memória do falecido faraó apagada.
Até a cidade de Akhetaton foi abandonada.
Era o fim do único faraó monoteísta
que se tem notícia.
Mas a resistência à mudança
não foi exclusividade dos egípcios
antigos.
Há muito tempo que ouço falar
em reforma política no Brasil. Alguns
defendem o voto distrital, outros o fim da reeleição,
também há quem acredite que o
voto em lista seria a melhor solução
para o processo eleitoral.
Das alternativas que são apontadas para
a reforma política, a que acredito ser
a mais adequada é a do deputado federal
Henrique Fontana, relator da comissão
especial da Câmara. Fontana defende o
financiamento público de campanha, ou
seja, cada candidato deverá buscar exclusivamente
em verbas públicas os recursos para sua
campanha. Essa Lei barraria a formação
de caixa dois, pois tornaria proibido o recolhimento
de recursos de campanha junto à iniciativa
privada. Com isso, diminuiriam os políticos
que fazem lobby para as empresas que os financiam.
Mas na minha opinião a única reforma
política que realmente surtiria algum
efeito é a que criasse Leis que garantissem
a educação política dos
eleitores. Enquanto o país não
investir na educação política
de nossa população, ensinando-a
sobre o funcionamento do processo eleitoral,
de nada adiantará realizar grandes reformas.
O problema eleitoral do país está
no fato das pessoas não conhecerem as
regras do sistema. Alegar que uma reforma política
irá impedir que Tiriricas sejam eleitos
é não desejar mudança alguma.
O que precisa ser feito é conscientizar
o eleitorado sobre as regras do jogo. Enquanto
não criarmos uma consciência político-eleitoral
no país, nada mudará.
Mas que o exemplo de Akhenaton seja observado,
pois os sacerdotes e ministros que não
desejam mudança alguma estão por
todos os lados. Afinal, muitos irão perder
com uma reforma política no Brasil.
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