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REVOLUÇÃO FARROUPILHA, FUTEBOL E O
RESTO DO MUNDO

Marcos Emílio Ekman Faber
Porto Alegre, 16 de novembro de 2010.

Não existe data mais importante para o gaúcho do que o 20 de setembro. Neste dia, comemoramos a Revolução Farroupilha, andamos pilchados, assamos churrasco e bebemos mate – não que nos outros dias não façamos a mesma coisa, mas neste dia é especial. Foi num 20 de setembro que o Rio Grande do Sul tornou-se país, uma República em época de Brasil Império.

Com orgulho cantamos nosso hino: “Mostremos valor constância; Nesta ímpia e injusta guerra; Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra”. Ostentamos com orgulho nossa tradição e nosso passado.

Fomos forjados no calor da guerra (Guerra da Cisplatina, Revolução Farroupilha, Guerra do Paraguai, Revolução Federalista, Revolução de 23, Revolução de 30, Campanha da Legalidade, etc.). Nenhum Estado brasileiro lutou tanto por si e pelo Brasil como o Rio Grande do Sul.

Hoje, não existem mais guerras para serem travadas.

Por isso, não é só nosso passado que nos enche de orgulho. O presente também. Seja na política, na cultura ou no esporte, somos orgulhosos de quem somos. Como no caso do futebol. Neste moderno campo de batalha defendemos mais do que nossas tradições, defendemos quem nós somos.

Assim como na Revolução Farroupilha, no Campeonato Brasileiro, defendemos nossa honra, lutamos contra as injustiças do poder central e buscamos nossa autonomia.

Para sermos campeões precisamos vencer o adversário, o juiz, o STJD, a imprensa e a opinião pública. Tarefa muito penosa. Talvez, por isso, não vençamos o Brasileirão há tanto tempo. São inimigos de mais para serem batidos.

Neste ponto sou obrigado a concordar com o gremista Eduardo ‘Peninha’ Bueno, que afirmou que o Brasileirão só tem uma função: dar vaga à Libertadores da América. Pois, segundo ele, a Libertadores é o campeonato que vale de verdade. Curiosamente tirando o São Paulo, os clubes que costumam “vencer” o Campeonato Brasileiro não tem muito sucesso na Libertadores. Por que será? Bom, esse é assunto para outro dia.

Assim como pensa o Peninha, pensa a maior parte do povo gaúcho, seja colorado ou gremista. O que vale mesmo é a Libertadores. Pois, é uma questão de hierarquia de campeonatos.

Quando os Farrapos marchavam para guerra, sua fama os precedia. Eram homens que há anos lutavam pela manutenção da fronteira do Brasil, eram homens ariscos, homens de guerra. Haviam lutado contra bandeirantes, castelhanos e indígenas. Eram homens forjados na guerra, que ostentavam vitórias em infinitas batalhas.

Da mesma forma, quando Internacional e Grêmio entram no gramado para a peleja, sua fama os precede. Somados os dois clubes têm 2 títulos mundiais, 4 Libertadores, 2 Recopas Sulamericanas, 1 Copa Sulamericana, 1 Suruga Cup, 5 Campeonatos Brasileiro e 5 Copas do Brasil. Isso ficando nos campeonatos oficiais. E sem contar que o Internacional vai disputar o Mundial de Clubes da FIFA no mês que vem (também já estando na final da Recopa Sulamericana de 2011).

Mas afinal, o que é? e quem é o gaúcho?

O gaúcho nasceu de uma combinação de etnias. Europeus (portugueses, espanhóis e, mais tarde, italianos e alemães), africanos (escravos) e indígenas (minuanos, guaranis e charruas).

Gaúcho era um termo pejorativo para homens desgarrados – alguns eram ladrões de gado –, que montavam cavalos “em pelo”, ou seja, sem sela. Eram homens rústicos, que viviam no campo. Eram os "guacho", que significa "órfão" e refere-se aos filhos de índia com o branco espanhol ou português. Somente em meados do século XIX o termo deixou de ser depreciativo.

Gaúcho é uma miscelânea. Todo gaúcho é meio brasileiro e meio castelhano. Todo gaúcho é meio africano e meio charrua.

Como afirmou, certa vez, o colorado Luís Augusto Fischer, no Rio Grande do Sul alguns tendem a ser mais brasileiros do que castelhanos, já outros mais castelhanos do que brasileiros. Isso faz bela e única nossa terra e nosso povo. São de contrastes e contradições que o gaúcho é forjado.

Assim, o Rio Grande do Sul elegeu o metalúrgico Lula presidente do país em 1989 (no Rio Grande, Lula venceu Fernando Collor nos dois turnos). Assim como o negro Alceu Collares e o gaudério Olívio Dutra foram eleitos governadores do Estado. Yeda, uma mulher, foi eleita governadora. Antes, o Rio Grande fora berço da Revolução de 30 e das Reformas de Base do Jango. Mas também foi terra dos ditadores Costa e Silva, Médici e Geisel. Somos terra de contradições!

Se Tarso Genro, do Partido dos Trabalhadores (PT), é nosso governador, o Partido Progressista (PP) é o partido com o maior número de prefeituras no Estado. Lembrem que se o PT é partido de esquerda, o PP é de direita (foi base de apoio à ditadura no Brasil – na época chamava-se Arena).

Não somos uma massa homogenia. Somos diferentes, divergentes e contraditórios. Porém, somos todos irmãos. Pois somos todos gaúchos. Para ser gaúcho basta querer, não é necessário nascer aqui, para ser gaúcho tem que pensar como pensam os gaúchos.

Gaúcho é quase uma ideologia.

Gaúcho é um modus vivendis. Pois concordamos em discordar. Concordamos em sermos diferentes.

Assim, também são colorados e gremistas. São contraditórios, são rivais, mas estão sempre próximos um do outro. Não vive um sem o outro. E, como todo gaúcho, são irmãos.

Desta forma, seguiremos em nossas batalhas, com nossa fama nos precedendo. E que “sirvam nossas façanhas de modelo a toda Terra”.

 

 


 
 

 

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