Ágape
Levantei da cama sem fazer barulho, dos pés do leito
observei por alguns segundos minha amada esposa
que ainda dormia. Fui até a cozinha e preparei um
café para surpreende-la.
Servi uma xícara de café com leite, um copo de suco de
laranja, três ou quatro pequenas torradas e um pãozinho
de 50 gramas cortado em fatias, também preparei
quatro pequenos potes de louça com requeijão light,
nata, doce de morango e goiaba, os preferidos dela.
Completava o café um comprido e estreito castiçal
de vidro com uma rosa híbrida de pétalas amarelas
com as pontas avermelhadas.
Quando cheguei ao quarto a observei por mais alguns segundos
antes de acorda-la. Havia uma fresta na janela de
onde passava um único facho de luz do sol que iluminava
seu dorso desnudo pelo edredom. Ela estava mais
linda do que nunca, ou talvez, linda como sempre,
usava uma camisola rosa claro com um longo decote
nas costas, onde milimétricamente o raio solar repousava.
Segurando a bandeja com a mão direita, com a esquerda
afastei os cabelos que repousavam em seu pescoço
deslizando a mão por sua nuca até entrelaçar os
dedos em seu cabelo. Ela despertou com o rosto inchado,
mas ao perceber minha presença abriu um sorriso
sem abrir a boca, o sorrido fez com que suas lindas
bochechas se avolumassem e ficassem vermelhas como
uma par de maças, ela piscou os olhos várias vezes
e esfregou as mãos no rosto, não disse uma sequer
palavra, apenas sorria. Seus olhos brilhavam como
nunca antes, ela arrumou o travesseiro na cabeceira
da cama e ficou sentada, eu repousei em suas pernas
a pequena mesa e sentei ao lado de seus tornozelos.
Oramos em agradecimento ao Senhor pelo bom alimento.
Repartimos do mesmo café e do mesmo suco. Comemos
das mesmas torradas, com doce de goiaba, morando,
requeijão e até mesmo da nata, por amor eu até como
nata.
Ao terminarmos eu me levantei, nos beijamos por alguns
incontáveis segundos, peguei a pequena mesa. Ela
levantou da cama e mais uma vez nos beijamos. Ela
entrou no chuveiro, eu fui para a cozinha lavar
nossa pequena louça.
Ao chegar na cozinha ouvi a voz do Senhor:
“Vejo que estas muito feliz, filho!”
“Sim, Senhor, muito feliz!”
“Tu estás agradecido?”
“Sim, meu Senhor, te louvo pelo que Tu és!”
“Tu ama a tua esposa, não ama?”
“Senhor, eu a amo muito mais do que a mim mesmo!”
“Ela também, meu filho!”
“Eu sei, pai!”
“Consegues explicar o que sentes por ela?”
“Não, Senhor.”
“Tu entendes o amor que eu sinto por ti, filho?”
“Tento mas é muito difícil!”
“Este amor que vocês dois sentem é insignificante
se comparado ao amor que sinto por vocês. Podes
entender isso?”
“Sim, Senhor!”
“Eu não te peço nada em troca, filho. Eu te amo
como tu és. Podes entender?”
“Eu amo minha esposa como ela é e não desejo que
ela mude, mas que ela cresça em Ti, pai!”
“Vejo que começas a entender. Meu amor por ti é
incondicional, não impõe condições. Mas se tu te
entregar a Mim, te transformarei em nova criatura,
te farei nascer novamente, a cada dia, e sempre
estarei contigo, por todos os dias de tua vida.
Crês nisso?”
“Sim, Senhor.”
“Então vai, e sê feliz."
Marcos Emílio Ekman Faber
Primeiro de setembro de dois mil e quatro.
Memórias de uma Missão